segunda-feira, 10 de outubro de 2005

alimentação

(poema inédito em livro, por Ruy Ventura)


que água alimenta hoje essa cisterna –
entre ervas, ossos, fumo e maresia – ?
talvez a do baptismo. talvez a que um dia,
sobre os telhados, hoje desaparecidos,
alimentava o sono e a escuridão.

sem sal (talvez sem sal), secaram
sobre as mãos a cal e a sombra.
sangue e suor desceram a colina.
com sede. com fome. sem voz
sem vento.

a terra desce ao interior nos dias mais frios.
engole os olhos, o verniz, o mármore,
a madeira – cabelos e saliva
sem fonte onde beber.

ninguém dará pelo segredo
escavado nessa rocha –
grãos de trigo.
rebentariam num telhado, morto, da cidade.

que nome guardariam nesses silos
que hoje apenas resguardam a memória?

longe (perto, mas demasiado longe) –
a mão e o útero abençoam todo o campo.

estenderam sobre o bosque e sobre o vale
a água e a habitação do tempo.



Sesimbra –
castelo (sécs. XIII e XIV)

3 comentários:

Ruy Ventura disse...

Agradeço ao Nuno a publicação do poema. Entretanto aponto apenas um esclarecimento: o poema inédito em livro, apenas, pois já teve uma anterior publicação da revista "Sesimbra Eventos".

nuno de matos duarte disse...

Obrigado pela emenda, Ruy. Vou corrigir o post.

nuno de matos duarte disse...

Já está corrigido.